terça-feira, 30 de agosto de 2011

Movie Comics #10 - V de Vingança (2006)

Eu não jogo dados, e não confio em coincidências”.

Já começo este texto dizendo que li o gibi V de Vingança há tempo demais para que eu me possa me lembrar dos detalhes mínimos da obra de Alan Moore de David Lloyd. Portanto, não há como eu discorrer sobre o filme fazendo comparações com o gibi, como normalmente faço. Tudo o que sei se resume ao fato de que as diferenças do gibi e do filme são tantas que o criador Alan Moore mandou remover o seu nome do projeto, bem como de quaisquer outros projetos que fossem adaptações de seus gibis.

É uma pena que ele se recusou a ter seu nome envolvido em um filme que é nada menos que brilhante.


V de Vingança poderia ser considerado o 1984 do cinema atual tamanha são as suas semelhanças. Ambas as obras mostram uma sociedade totalitária, neste caso, a Inglaterra de um provável  futuro, mostram também a opressão do governo para suprimir os fatos e moldá-los de acordo com seus interesses. E enquanto em 1984 tínhamos o Grande Irmão, em V de Vingança temos o chanceler Adam Sutler (John Hurt, que viveu um papel oposto na adaptação do mesmo 1984) que ascendeu ao poder absoluto da Inglaterra usando de métodos bárbaros e cruéis, para se dizer o mínimo.  E eu tenho um pequeno lema pessoal (e admito que não sei de onde eu o tirei, só sei que é algo que eu defendo fortemente) que diz que “toda opressão gera uma revolução. Ou simplesmente, toda ação gera uma reação oposta, e de mesma intensidade.



É por esse princípio que acompanhamos o ‘guerreiro da liberdade’ V (Hugo Weaving), um homem que inicialmente é guiado apenas pelo ódio puro, e pelo desejo de vingança, ou uma vendeta, como sugere o título em inglês do filme (V for Vendetta). V, cujo nome e rosto não são revelados no filme, é um homem que usa o teatro para disfarçar suas intenções violentas e seu distorcido senso de justiça e liberdade. Não fosse o surgimento de Evey Hammond (Natalie Portman) em sua vida, V lutaria uma causa com grandes chances de perder esta. Evey também é uma mulher que começa o filme de forma diferente. Apesar de ter um passado com fortes ligações aos incidentes que levaram o chanceler ao poder, Evey parece viver uma vida estagnada, longe de qualquer desafio ou desejo de mudança. Até conhecer o mascarado V, que depois de submetê-la a uma profunda experiência física e psicológica, fará com que Evey mude seu modo de ver todo o quadro geral do mundo opressivo ao seu redor, transformando-a em uma guerreira.



E é interessante perceber como o cineasta James McTeigue e os roteiristas Andy e Larry (agora Lana) Wachowski trabalham essa ligação entre V e Evey (reparem até mesmo na fonética de ambos os nomes), através de cortes onde um parece completar o gesto do outro, mesmo que em cenários e situações diferentes. E o diretor não é só é bem sucedido em comandar o relacionamento entre os protagonistas, como também acerta no visual do filme e na urgência da narrativa. Afinal, não podemos nos esquecer de que estamos assistindo uma história opressiva, onde a Inglaterra tornou-se uma ditadura, onde atos de provável insurreição são punidos de formas cruéis pelos policiais-Dedo comandados pelo impiedoso Mr. Creedy (Tim Pigott Smith).  O inspetor Eric Finch (Stephen Rea) é o único homem que questiona todo esse governo, ainda que não de forma aberta. Ele é, assim como Evey no começo do filme, um homem conformado, que apenas quer fazer o seu trabalho policial. Mas ao contrário de Evey, Finch consegue perceber sozinho o quadro maior, e age de acordo do que esperaríamos de um homem ponderado e sensato.

Além dos atores mencionados acima nos parênteses, há de se lembrar de Stephen Fry como o humorista subversivo Gordon Dietrich. Ao passo que uma de suas cenas é a mais engraçada do filme, uma delas é trágica na mesma medida.



V de Vingança é um filme que nos mostra o poder de uma ideia. A ideia pode partir de um simples homem como eu e você, de carne e osso e de ações imperfeitas. Mas o poder de uma ideia irá viver para sempre. E convenhamos, quem aqui não gostaria de ter a coragem que V teve para lutar pelos seus ideais, a ponto de se tornar a própria personificação da ideia em si?
E o mais estimulante para mim é saber que toda essa discussão partiu de um filme que é baseado em nada menos que uma história em quadrinhos. Não um livro, nem um conto, muito menos uma peça de teatro clássica. Mas de um gibi. E ainda tem gente que considera gibi coisa de criança...

Wallpaper do filme. Pegaê =D


Veja aqui o trailer do filme

Cotação: *****

No próximo post: X-Men – O Confronto Final (oh boy, esse vai ser tenso)

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