segunda-feira, 21 de março de 2011

Tron Legacy - uma intepretação pessoal



 Amo o filme Tron Legacy. De uma forma surpreendente, um filme que eu esperava ser apenas uma diversão temporária se tornou algo maior do que eu pensei que seria. Podem até dizer que o filme se leva a sério demais, mas pensem. Se o filme não fizesse isso, será que ele teria sido tão marcante pra tantas pessoas que estão ao meu redor diariamente?

Fiquei espantado com o número de pessoas que disseram que o roteiro é superficial, que a história é fraca. Infelizmente, a informação não é de todo errada, já que o roteiro de Tron Legacy não se aprofunda nessas interpretações e simbolismos que à primeira vista, são difíceis de perceber. De fato, muitos desses "simbolismos" que eu vi no filme, são apenas interpretações minhas, não necessariamente refletindo a intenção dos roteiristas (Edward Kitsis e Adam Horowitz, do seriado Lost) ou a do diretor Joseph Kosinski. Então vou brisar por aqui um pouco, e se você concorda comigo ou não, fica a seu critério.

O texto conterá vários spoilers do filme, inclusive comentarei sobre o final. Se vc ainda não viu o filme, fica a dica OK?


Resumindo em poucas palavras, Tron Legacy é a história de um deus e seu relacionamento com o mundo que criou. Isso te faz lembrar uma certa história?

Segundo a Bíblia, Deus tinha inúmeros anjos em Seu serviço, mas havia um que Lhe era o mais querido: Lúcifer. Lúcifer era o mais belo dos anjos e amado por todos no Paraíso até descobrir que Deus criara o Homem à Sua própria imagem e semelhança. Lúcifer viu a imperfeição no Homem e não aceitou o fato de Deus amar mais a ele do que aos anjos que tanto Lhe serviam. Lúcifer, por conta disso, liderou um levante contra Deus e perdeu. Assim, Deus o baniu para o Inferno.

Na Bíblia, é visível a diferença do Deus do Antigo Testamento e do Deus do Novo Testamento. No Antigo Testamento, Deus colocava os seus servos à mais duras provas que se podia imaginar. Quer exemplos? No livro do Gênesis, Deus manda Abraão sacrificar seu único filho, Isaac, em honra a Ele. Quando Abraão estava prestes a descer a faca sobre seu filho, um anjo desceu e disse a Abraão que deveria poupar seu filho, pois este era apenas um teste de fé de Abraão. No Êxodo, Moisés havia sido ordenado por Deus para ir até o Egito e libertar o Seu povo, mas disse que antes disso iria mandar as Suas 10 pragas ao Egito e iria endurecer o coração do Faraó, para que este não libertasse o povo hebreu da escravidão e assim a décima praga pudesse caminhar no Egito: a morte dos primogênitos. Isso sem contar a maior catástrofe de todos os tempos: o dilúvio, que poupou apenas Noé e sua arca, com a sua família e os animais que ali estavam.



Já no Novo Testamento, a Bíblia diz que Jesus Cristo é o único filho de Deus e veio para redimir o mundo do pecado através de Sua morte na cruz. Aqui em casa sempre rola um papo cabuloso de que não só o Homem precisava de redenção, mas Deus também precisava se tornar mais amoroso, mais misericordioso. E conheceríamos esse novo Deus através de Jesus Cristo. E foi o que aconteceu de fato, quando Jesus instiuiu o décimo primeiro mandamento: (que faz um paralelo com o primeiro mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas) "Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei", derrubando de vez a imagem do Deus impiedoso, e espalhando a imagem de um Deus amoroso, de um Pai Celestial.

Agora você vem e pergunta: aonde diabos isso se encaixa com Tron Legacy?



Kevin Flynn (Jeff Bridges) é o maior empresário de videogames da história, tendo criado os dois jogos mais famosos de todos os tempos: Tron e Space Paranoids. Mas o filme deixa bem claro que Flynn estava indo de mago dos videogames para algo maior. Quando a sua esposa morreu em 1985, Flynn começou a trabalhar em algo diferente. Segundo palavras do próprio, "uma fronteira digital que iria remodelar a condição humana". Flynn, que já era famoso pelos games que criou, começou a criar um frenesi mundial sobre o que seria essa "fronteira digital".

A verdade era que ele estava criando um mundo inteiro dentro de um sistema virtual. A Grade.



Kevin Flynn se materializou no ciber espaço da mesma forma que no filme original de 1982. Mas dessa vez não era no sistema da empresa na qual se tornara presidente, a ENCOM. Era uma matriz totalmente nova, sem nada, pronta para ser moldada de acordo com o desejo de seu criador, de onde poderia transitar entre ela e o mundo real à vontade. Mas Kevin não poderia criar um mundo sozinho não é? Então ele criou exatamente à sua imagem e semelhança, um programa capaz de criar o "sistema perfeito", e o chamou de Clu (também Jeff Bridges, rejuvescido por CGI), sigla para Codifcação Legítima Útil. Com a ajuda de Clu, e de Tron (Bruce Boxleitner), que Kevin havia trazido do sistema antigo, os três estavam criando um mundo. Criaram ambientes, prédios, veículos, programas para povoar este mundo, e assim, tudo corria de acordo com o plano. E a amizade entre Kevin e Clu apenas crescia, ambos animados por estarem criando o mundo perfeito.

Até o dia que Flynn descobriu que a sua Grade estava criando vida por conta própria.



Os ISOs (Algoritmos Isomórficos) surgiram de acordo com as condições do ambiente e se manifestaram do nada. Eles foram encontrados pelo próprio Kevin, que se encantou com o fato de seu mundo virtual estar produzindo vida própria, o que fez que assim que voltasse ao mundo real naquele dia, anunciasse a tal "fronteira que remodelaria a condição humana". Mas Clu não via a coisa bem assim. Em sua visão, os ISOs eram imperfeitos. Uma ameaça ao seu sistema perfeito.

"A Grade. A fronteira digital. Pensei em pontos de informação se movendo pelo computador. Como seriam? Naves? Motos? Com circuitos de estradas? Eu continuei sonhando com um mundo que eu jamais imaginei que existia. Até que um dia, eu entrei".

Essas são as palavras que Flynn diz ao seu filho único, Sam, no começo do filme. Sabemos logo depois dessa cena, que se passa em 1989, que Kevin não voltou pra casa naquele dia.



Nesse dia, Clu aborda Kevin e Tron, este último demonstrando preocupações com o comportamento de seu companheiro. Clu pergunta se "ainda deve criar o sistema perfeito". Diante da afirmativa de Kevin, Clu se arma e avança para cima de Kevin. Tron consegue ganhar tempo para que Flynn fuja, e acaba sendo derrotado por Clu (mais tarde no filme, sabemos que Tron foi reprogramado para ser um servo de Clu, se chamando Rinzler). O portal do mundo virtual se fecha, e só pode ser aberto pelo lado de fora, e assim, Flynn fica preso na Grade, enquanto testemunha Clu e seu exército exterminarem todos os ISOs sem piedade, em um ato que seria conhecido como "o Expurgo".

Perceberam a semelhança com o levante que Lúcifer faz contra Deus? Assim como Lúcifer via os humanos como imperfeições, Clu também via os ISOs da mesma forma. Só que no filme, o resultado é outro. Clu vence e se torna o governante da Grade, enquanto Flynn é banido.  Uma outra interpretação interessante e simples, é que Clu representa o Deus do Velho Testamento (frio e impiedoso), e Kevin seria o Deus do Novo Testamento (caloroso e generoso). Uma cena que demonstra bem a "divindade" de Kevin Flynn, é quando ele entra na boate Fim da Linha, do extravagante Zuse (Michael Sheen). Basta apenas um toque de Kevin no chão, para que a luta que acontecia ali no local parasse na hora. E durante a fuga de Kevin, Sam e Quorra (Olivia Wilde) da boate, é bem visível um dos habitantes da Grade se ajoelhando diante de Flynn tal qual um religioso se ajoelharia diante de seu deus. E a personagem Quorra, momentos depois no filme, quando relata o momento que foi salva por Flynn durante o Expurgo, diz em alto e bom som as seguintes palavras:"e de pé, acima de mim, estava o Criador".



Quando Sam reencontra seu pai dentro da grade, com a ajuda de Quorra, que é a última sobrevivente dos ISOs, o jovem Flynn descobre que Kevin estava vivendo como um recluso dentro de seu próprio mundo, sem intervir em nenhum acontecimento desde o dia em que ficou preso na Grade. É como se Flynn, representando o Deus do Novo Testamento, não existisse, e apenas Clu reinasse com impiedade e crueldade, tal qual se acredita que era o Deus do Antigo Testamento.

Apesar do papel de Sam Flynn na trama não possuir analogias à Jesus Cristo, não consigo deixar de pensar que é depois que o rapaz decide colocar as cartas no jogo e lutar pelo que acredita, Sam desperta em seu pai o desejo de sair da estagnação, da apatia. E assim a luta prossegue até o final carregado de emoções, onde Kevin e Clu duelam diante do portal aberto para o mundo real. Flynn manda Sam levar Quorra para o nosso mundo, e espalhar o "milagre" que é a vida gerada em um mundo virtual e se sacrifica para deter Clu, através de um tipo de fusão que os corpos de ambos não aguentam. Resumindo, é a intervenção de Sam Flynn que faz com que o governante cruel fosse derrubado, sendo substuído pelo governante misericordioso, fazendo assim um paralelo interessante entre Deus antes e depois de Jesus Cristo.



Agora o que será da grade, e como o mundo irá reagir à descoberta da existência de Quorra, e da grade, isso só saberemos se a Disney decidir produzir uma continuação do filme, o que infelizmente, é incerto no momento.

Fico até chateado em pensar que alguns críticos chamaram o roteiro do filme de superficial. Se foi possível que uma pessoa igual eu decidisse analisar o filme mais a fundo, para encontrar esses simbolismos no filme, por que os críticos se recusaram a enxergar algo assim?

Bom, agora com o lançamento do filme em DVD e Blu-Ray, mais pessoas poderão descobrir o filme encantador que é Tron Legacy. Espero que goste do meu texto. E pra encerrar, uma figura mucho foda que eu achei no Gúgol. =D

3 comentários:

  1. No fundo...acho que vc viajou na batatinha.
    acho que comparar um filme oitentista (da Disney) e agora reparginado por alta tecnologia com a escritura sagrada é um pouco de mais...Você tem sua opinião e respeito isso,achei ate sabias suas palavras ao dizer que a "clítica" o levou muito a sério.Mas é assim mesmo,esse filme como muitos outros era muito aguardado a anos.Nisso se criou uma expectativa absurda.Ai quando saiu..não era tudo aquilo que se esperava.Ora,nunca vai ser! todo mundo quer uma história perfeita, um filme perfeito,uma trepada perfeita um omelete perfeito...poxa, quando as pessoas vão se dar conta que isso não existe.Sem os erros ou as imperfeições que graça a vida teria.Ou de que jeito "sem graça" viveríamos se fosse tudo perfeitinho.Na verdade é disso que o filme Tron Legacy se trata.Não existe perfeição.veja o filme de novo com esses olhos e verá que tenho razão.

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    1. Desculpe, mas... Por que, justo VOCÊ, é quem deve ter razão?? Aqui ele deixou a opinião dele, sendo que você fez o mesmo no comentário. Ninguém deveria impor o próprio ponto de vista acima e em cima da visão do outro!

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  2. Assisti o filme e concordo plenamente com o que foi postado aqui, percebi mais, o filme quer dizer outra coisa, que Deus e o diabo são a mesma pessoa e tem os mesmos poderes, e que foi necessário que eles se destruam para acabar tudo, como se o mundo só fosse "harmônico" com o bem e o mal andando juntos, claro que quem quer que acreditemos nisso é o diabo e digo mais, tente olhar os filmes com outros olhos, a história é a mesma em Matrix, Senhor dos Anéis, observe, observe que em todos estes filmes e midias musicais há pirâmides oucultas indentificando quem é o deus citado no filme, o deus que esta na nota de 1 dolar, o olho que tudo vê da maçonaria, ou lucifer o pai da maçonaria, isso não sou eu quem diz, mas Albert Pike, pai da maçonaria moderna.

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